"Não denunciei antes, pois era ameaçada em ser processada; sou pobre e tinha medo, por isso forcei minha demissão"
A doméstica Maria (nome fictício, pois tem receio de represálias), 37 anos, confirmou no início da tarde desta terça-feira, 18, as agressões que duas crianças teriam sofrido do pai, um médico em São Carlos e da mãe. Ela trabalhou no apartamento dos acusados, no centro de São Carlos, de fevereiro a outubro de 2016. As afirmações foram estarrecedoras. Os acusados negam as agressões.
A denúncia chegou à tona após uma foto do menino de 4 anos, com ferimentos no rosto e na orelha, ser postada nas redes sociais, bem como áudios garantindo que seria vítima de agressão.
O caso está sendo investigado pela delegada Denise Gobbi Szakal, da Delegacia de Defesa da Mulher (DMM) e as crianças foram resgatadas na noite destra segunda-feira, 17. Por volta das 21h, uma equipe do Conselho Tutelar, apoiados por guardas municipais encaminharam as crianças para um abrigo infantil.
ESTARRECEDOR
Maria disse inicialmente assume o erro de não denunciar os supostos agressores, mas disse que tinha medo, pois ameaçavam processá-la se "abrisse a boca". "Sou pobre e dependia do salário. A corda sempre arrebenta para o lado mais fraco. Foi erro meu em ficar quieta, mas preferi faltar muitas vezes até ser demitida".
A ex-empregada disse que começou a trabalhar na casa do médico em fevereiro de 2016 e saiu em outubro do mesmo ano. "Quanto aos salários, pagavam corretamente. Mas sai devido aos desentendimentos com a patroa", comentou.
Indagada o que seriam os desentendimentos, Maria afirmou que era devido as agressões que as crianças sofriam. "Quando comecei a trabalhar lá, as crianças estudavam em uma escola particular. Ai começou a ter denuncias de agressão, e os pais colocaram os filhos em outra escola".
Maria disse que a primeira vez que tomou conhecimento da agressão, foi quando a mãe foi levar o menino na escola e de um tapa no rosto dele. A criança ficou com marcas e no dia seguinte, quando ela foi levar o garoto a professora teria dito a ela sobre tais marcas no rosto da criança.
"Na primeira escola, o filho ficava o dia inteiro. Ai quando mudou de local, na outra escola, ele ficava meio período. Pela manhã ficava em casa, mas a mãe não deixava ver TV, não podia brincar e nem sair do quarto", afirmou.
AGRESSÕES
A ex-empregada doméstica afirmou que conversava com as crianças. Tanto o menino com 4 anos, quanto a menina, de 6 anos. Além de presenciar atos violentos, as crianças revelariam para ela as agressões sofridas.
"Apanhavam com sapatos e com as mãos. Eram empurradas à distância. Uma vez o menino foi jogado no banheiro e levou um tapa na boca e perdeu um dentinho. A mãe apertava com força a mãozinha dele e as vezes era obrigado a comer comida com pimenta. A filha também foi empurrada para longe e chegou a apanhar com um cabo de vassoura na cabeça e feriu o couro cabeludo", garantiu.
De acordo com Maria os motivos eram fúteis, sem razão. "Em 2016 cheguei a ser chamada no Conselho Tutelar e o médico disse que era para eu mentir e chegou a me ameaçar. Mas lá eu contei o que sabia", afirmou.
Maria disse ainda que, a partir de julho, propositalmente, começou a faltar para que, em outubro, acabasse por ser demitida.
O caso continua sendo investigado e caso as agressões sejam comprovadas, os pais das crianças podem responder pelos crimes de tortura, lesão corporal e ameaça.
fonte: São Carlos Agora