Quinta-feira, 03 de julho de 2025
Fala Matão

Ulisses aceita tratamento contra dependência após série de agressões em Matão

Morador em situação de rua, conhecido na cidade, aceita internação voluntária após intervenção da Guarda Civil Municipal. Entenda mais sobre a dependência e as consequências do vício em crack.

 

  • Alex Gasoni
  • 13:02
  • Quarta-feira, 02 de julho de 2025
Fala Matão - Alex Gasoni
Ulisses sendo encaminhado para o Renascer e, posteriormente, para uma clínica de tratamento para dependentes químicos em Catanduva

Ulisses é um rosto conhecido de muitos moradores de Matão, principalmente da parte alta da cidade. Antes de ser visto em esquinas e semáforos pedindo ajuda, teve uma vida considerada comum na cidade. Mas a dependência do crack destruiu sua rotina e o levou à situação de rua.

Nos últimos dias, diversos relatos de agressões cometidas por ele circularam pela cidade. Uma mulher teria sido cuspida, uma menina agredida — ocasião em que ele também acabou sendo espancado por populares — e um homem quase foi agredido fisicamente. Não bouve registro de boletim de ocorrência por parte das vítimas. Em Araraquara, por onde ele também passou, outro caso foi registrado: uma senhora teria sido agredida com um soco. Ele foi detido pela GCM de Araraquara e, ao ser identificado como natural de Matão, a assistência social do município o encaminhou de volta à cidade. Em todas as situações ele estaria sob o efeito do crack.

Diante da crescente preocupação de populares, chegou-se a tentar uma internação compulsória, sem sucesso. Em uma ação realizada na manhã desta quarta-feira (2), a Guarda Civil Municipal o encontrou na Praça da Abolição. Após diálogo, conseguiu convencê-lo a aceitar uma internação voluntária. Ele foi acolhido no Renascer, pela Associação Pão Nosso, e será encaminhado a uma unidade de tratamento em Catanduva.

A epidemia silenciosa do crack

A trajetória de Ulisses é só mais uma entre milhares. O crack, uma droga altamente viciante e devastadora, tem avançado silenciosamente pelas cidades do interior. Segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública, o Brasil é um dos países com o maior número de usuários de crack no mundo. De acordo com levantamento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cerca de 1,39% da população brasileira acima de 14 anos já usou crack ao menos uma vez na vida — são quase 2,9 milhões de pessoas. Estudos apontam que cerca de 370 mil usuários estão apenas nas capitais — e 40% vivem em situação de rua. O número real pode ser ainda maior.

O avanço do crack está diretamente ligado ao aumento de pequenos furtos, degradação urbana, população em situação de rua e sensação de insegurança nos centros urbanos. Em cidades como Matão, a presença crescente de pedintes em semáforos e os furtos em áreas centrais têm preocupado moradores e autoridades e, em muitos casos, o vício em crack está na origem desse cenário.

Como as pessoas chegam a esse ponto?

A entrada nesse mundo não ocorre do dia para a noite. Diversos fatores contribuem: vulnerabilidade social, histórico de violência doméstica, falta de acesso a oportunidades, abandono escolar, traumas não tratados e, principalmente, a ausência de políticas públicas eficazes de prevenção.

Muitos usuários chegam ao crack após o uso de outras substâncias, como álcool, maconha e cocaína. Quando a dor interna encontra espaço no abandono externo, a droga aparece como uma falsa solução — rápida, acessível e, aos olhos do usuário, inevitável.

O maior desafio: prevenir

Tratar quem já caiu no vício é difícil, caro, demorado e nem sempre com resultados garantidos. Por isso, especialistas alertam: o maior desafio é evitar que novas pessoas entrem nesse ciclo.

É preciso investir em políticas públicas de prevenção e inclusão: fortalecimento das redes de apoio social, acesso à saúde mental, atividades culturais e esportivas nas periferias (o esporte coletivo precisa invadir os bairros), além de apoio às famílias em situação de vulnerabilidade. Escolas, conselhos tutelares, centros de convivência e projetos comunitários devem atuar de forma integrada para identificar sinais precoces e agir antes que a situação se torne irreversível.

Olhar para situações como a de Ulisses deve ser um exercício de responsabilidade coletiva. É parte do que a sociedade precisa fazer — não apenas para ajudá-lo, mas para evitar que novos “Ulisses” ocupem seu lugar amanhã.

Efeitos do crack: um risco real e devastador

O crack é uma droga extremamente viciante e destrutiva. Seus efeitos aparecem rapidamente e afetam o corpo, a mente e a vida social do usuário.

Efeitos no corpo e mente:

• Euforia intensa e curta, seguida de angústia;
• Forte compulsão por mais doses;
• Insônia, perda de apetite e emagrecimento extremo;
• Alucinações, paranoia e comportamento agressivo;
• Risco de infarto, AVC e convulsões.

Consequências sociais:

• Rompimento de laços familiares e sociais;
• Perda de emprego, abandono dos estudos;
• Isolamento, violência e situação de rua.

A dependência se instala rápido, e a abstinência é avassaladora. Por isso, prevenir é fundamental.

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